A Liberdade Em Cativo

PARTE I:

A Igualdade Como Ferramenta de Controle

São Bernardo do Campo, 24 jan. 2021 às 13hs55.
Poema de: Rerismar Lucena

 

Em nome da igualdade, ou restauração da verdade identitária
A liberdade já não liberta:  é prisioneira da vontade.
— O livre arbítrio sob o jugo da potestade.
Da relação construída por obediência paritária.
 
Dependente da vontade de uma nefasta liberdade,
Que provoca prazer ou contentamento inebriante.
O pressuposto único da ideologia cativante
Na hierarquização libertadora da igualdade
 
Que impõe forja à moral, ao livre arbítrio, a consciência;
Sob a presunção de garantir a “verdadeira igualdade”.
A liberdade de expressão — como pantomima da maldade,
Na visão tosca do déspota que impõe obediência.
 
Incorpora ignorância a distopia da normatividade
Como se liberdade é uma espécie de subversão:
Pressuposto dos alienados que nascem na servidão.
 
Repele o poder da autonomia e da espontaneidade,
Para se ver livre da barbárie e da liberdade arbitrária:
Cerceia-se às vozes ressonantes contrárias.
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O que te liberta, também te aprisiona. Pois o homem é servo de suas necessidades imediatas.

“O homem aliena-se de sua própria liberdade, mentindo para si mesmo através de condutas e ideologias que o isentem da responsabilidade sobre as próprias decisões”.  Jean-Paul Sartre (1905-1980) 

 (Rerismar Lucena, 24 jan. 2021).



PARTE II:

A Palavra Como Castigo e Vontade

São Bernardo do Campo, 30 jan. 2021 às 21hs05.
Poema de: Rerismar Lucena
 

Quando a vontade se torna libertadora, no instante da palavra proferida
A linguagem perde a funcionalidade, ao revestir-se de cuidados.
O dislate entre diálogo e entendimento contumaz, se fez perdida
Na confusão dos sentidos, da ressignificação dos antepassados.
 
Na centelha ardente das narrativas onde prevalecem o arbitrário
Que desinveste a palavra de sua pretensa utilidade: o entendimento.
A linguagem como escombros da edificação do homem: sepulcrário
De desejos que engendram a falta e o ressentimento.
 
Onde a todo o dito se faz mensura, podendo ser interdito
A palavra como caos. Como ordem ou instrução.
Perde-se na funcionalidade de seu entendimento
Nas narrativas que devoram o pressuposto da ação.
 
A palavra como castigo e vontade de uma justiça dominadora
Que conduz ao seio da sabedoria selvagem libertadora
Sob o escrutínio da palavra do ser que o nomeia.  
 
O homem regressa a escuridão abismal do pensamento que medeia
A origem do mal. Um exercício de vontade, da liberdade que devora.
Da palavra que ecoa anômala; e que se evola, mundo a fora.
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A linguagem como escombros das ruínas da edificação do homem babélico. 
De sua arvora em atingir o inatingível: a natureza divina [Deus].
 
“Eis que o povo é um, e todos tem uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer?” (Gênesis 11:16)
 
(Rerismar Lucena, 30 jan. 2021).



PARTE III:

Os Pássaros São Livres? [O Arbítrio]

São Bernardo do Campo, 22 Fev. 2021 às 01hs25.
Texto de: Rerismar Lucena

 

Não existe livre-arbítrio. O que existe é a própria vontade ao alvedrio da subsistência humana. Da luta incessante, do ser pensante, para garantir a sobrevivência material perpetrada pelo intelecto, no qual o arbítrio é servo. Potencializada pela razão, como instrumento da vontade.

No início dos tempos, o ser humano lutava de forma precária por sua existência. O desenvolvimento de seu intelecto ao longo dos tempos, cria a dicotomia entre o bem e o mal, e normas como valores morais para orientar o agir a compulsão da vontade, — que por vezes animalesca e predatória, diante do suplício da existência; da angústia de ser um ser que se percebe e pensa. A ambivalência humana surge das necessidades de sobrevivência. Ao transcender seus limites, ganha relevância e inteligência, se diferencia entre os animais da espécie hominídeo. Distingue-se dos demais, se isola em pequenas comunidades e grupos sociais para garantir sua preservação, seu domínio.

Porém, a evolução da sociedade em grupo cria a provisão do controle de seu impulso lascivo e irracional. E as demais características, já inerentes ao ser, se desenvolve sempre na perspectiva do eu que existe e domina; empenhado apenas na sobrevivência, subjugando os demais. Se antes era a subjugação de um ser físico, com a evolução de suas capacidades inteligíveis, o domínio sobe as esferas do intelecto e do ser-espírito.

Com o avanço dos mecanismos mentais, da capacidade de resolver, compreender e julgar, o ser humano busca dar sentido as coisas, criando regras e dimensões ao universo do pensar fenomenológico. Busca a experiência prática das coisas. A compreensão a partir dos sentidos cognitivos para absorver o conhecimento, e, com isso, implementar padrões de domínio.

Padrão esse desenvolvido sob um conjunto de regras sistematicamente organizadas, com base em pensamentos e ideias interligadas a fatos ou circunstâncias contextualmente elaborados para gerar um teor moral, e assim, criar a percepção artificial do bem e do mal. Focalizam ideias que afiam o pensamento direcionado. Moldam coisas e situações; alteram a essência dos fatos para subjugar o intelecto distraído; à consciência e a personalidade do coletivo.

O ser-espírito é cativado pelos prazeres sensoriais da concupiscência dos olhos, que macula a pureza do coração e os conduzem a soberba da vida. Da beleza e encanto de um mundo aparente, moldado no desejo e na ambição desmedida.

“A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz” (Mateus 6:22)
 
“Para abrir os olhos dos cegos, para libertar da prisão os cativos e para livrar do calabouço os que habitam na escuridão.” (Isaías 42:7)

 

(Rerismar Lucena, 22 Fev. 2021).

 

 

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